Pular para o conteúdo principal

Coisas do Amor e o emaranhado de ideias para um confort movie

O tipo de filme que, sim, você precisa dar uma chance e entender que, as vezes, finais felizes não precisam fazer sentido

Eu sou uma pessoa meio desatenta com relação a sinopses, talvez isso explique o porquê não consigo escrever resumo de obras de uma maneira eficiente. Contudo, no caso de "Coisas do Amor" (Love Thing, em inglês; ou "Liebesdings", no original), não lembrar tanto da sinopse até me ajuda a ter um consenso sobre o que achei do filme.

Afinal, temos aqui uma comédia romântica, com doses interessantes de drama, com alguns debates sobre vários assuntos e por aí vai. É, no geral, um filme que fala de tudo um pouco e consegue criar alguns pontos válidos - mesmo que, em vários momentos da jornada, se perca.

O foco maior é, justamente, em toda questão de romance que envolve nossos protagonistas que são duas pessoas descrentes no amor. Cada um deles tem seus motivos para não acreditar que o amor seja isso tudo e há um real esforço para nos convencer dos motivos desses personagens, em especial ao longo do desenvolvimento da trama. Além disso, há um esforço imenso em trabalhar todo amontoado de ideias que há para se desenvolver.

Contudo... é justamente nesse amontoado de ideias que mora o calcanhar de Aquiles do filme, já que há ideias demais e tempos de menos.

Sou entusiasta de filmes com menos de 2h00, isso na maioria das vezes, porque este é um filme onde não faria mal ter um tempo maior que 1h30; pelo contrário, até ajudaria no desenvolvimento da trama, porque trabalharia melhor todo conjunto narrativo que o filme se esforça a contar.

E isso me deixa meio triste, porque são ideias legais, toda questão de mostrar uma jornalista disposta a tudo para revelar o que, para ela, é uma face oculta do ator galã - que é nosso protagonista -, toda pauta em torno do feminismo, toda parte do teatro com problemas financeiro, o passado do protagonista e por aí vai, porque a lista é imensa.

Onde há uma maior abordagem ainda possui certos errinhos, porque pode soar rápido demais para alguns espectadores, tudo porque o filme tem um ritmo muito instigante de começo, mas se joga em várias ideias no 2º ato; o que torna a conclusão meio apressada.

Compreenda que, neste filme, não temos tramas mirabolantes, mas sim um filme sobre amor, se perdoar pelo passado e aceitá-lo, além de pautas sobre amor, empoderamento feminino; com piadas sobre não saber onde fica um clitóris e tal (sim, tem umas piadas sobre clitóris e, honestamente, rendem boas risadas); todavia, no meio do monte de sub plots desenvolvidos no mínimo, temos uma trama com coração e que, efetivamente, nos deixa uma mensagem sobre amor.

Porque, sejamos francos: amor a primeira vista pode não existir, mas, porra, quanto de nós não tivemos aquela conexão a primeira vista com alguém, de uma maneira que tudo se encaixa e, no fim, percebemos que há sim uma possibilidade de final feliz? É uma daquelas coisas que não possui explicação, mas nos faz querer aproveitar a vibe.

Em dado momento do filme, Marvin pergunta a Frieda "O que há de tão errado com finais felizes?" e isso é uma pergunta que me pegou, muito porque, mesmo sendo meio negativo com todo lance do amor, faz um sentido absurdo - em especial no contexto do filme, onde ambos personagens (que são os protagonistas) possuem seus receios com o sentimento de amar -, pois nos recusamos a achar um final feliz algo realista, por diversos fatores.

É esse tipo de coisa que, no fim do dia, nos trava para tudo. No caso específico do filme, o medo do final feliz acaba funcionando muito, porque é ele quem mais faz as situações que ali ocorrem fluírem da maneira que se deve. É só quando o medo, receio e demais sentimentos negativos se esvai que a os passos são dados e, neste foco de mensagem, o filme consegue fazer todo um ato muito bem trabalhado.

Não vou dizer aqui que vocês vão obter a reinvenção da roda, porém "Coisas do Amor" é um confort movie, no sentido mais honesto da palavra. Ele te pega, te deixa interessado nas ideias gerais e, no fim, te deixa de coração quentinho. Ele consegue ser simples, divertido e agradável, sendo funcional como uma comédia romântica e efetivo como filme.

É uma obra que recomendo para quem procura uma comédia romântica para relaxar as ideias e adotar como filme de conforto, mesmo com suas derrapadas no segundo ato. Para mim, se tornou uma obra para assistir de tempos em tempos e ter outras perspectivas sobre as questões abordadas, em especial no que se refere o sentimento de amor - e sobre o final feliz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nefarious e a ideia de "conversar com o demônio"

Filme entrega uma construção interessante dentro de sua proposta, contudo há tropeços no caminho

"Elas por Elas" é um filme feito por mulheres para todos

As várias definições sobre mulheres e suas lutas