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Resenha do Raposo - Dakaichi: O Homem Mais Desejado do Ano vols. 1 ao 5 (Panini Comics)

Uma obra que eu não indico, mas leia por conta e risco

Sou o tipo de leitor que, de uns anos para cá, tem curtido a ideia de sempre se desafiar com relação a leituras e investir dentro de gêneros literários que, até outrora, eu não investiria. Por este motivo, quando me deparei com Dakaichi fiquei curioso, em especial por conta de um apontamento que foi feito por muitos fãs de BL na época do anúncio pela Panini.

Demorou, mas li os 5 primeiros volumes em uma lapada só – sendo honesto, não foi tão assim, porque li tudo em uns dois/três dias; mas ainda assim foi uma minimaratona com a mesma obra – e, após concluir essa leva de leitura, posso dizer que há problemas na obra e, sim, temos um mar bem espinhoso a caminho.

Antes de seguirmos para os comentários, vamos a uma rápida ficha técnica: escrito e ilustrado Hashigo Sakurabi, Dakaichi O Homem Mais Desejado do Ano (ou “dakaretai otoko 1-i ni odosarete imasu”, no original) começou sua publicação nas páginas da Magazine Be x Boy, da Libre Publishing, em Julho de 2013 e segue em publicação contando, até o presente momento, com 8 volumes encadernados. Além disso, a obra conta com animê (13 episódios ao todo) e um filme animado.

Passado o momento ficha técnica, vamos ao ponto que me motivou escrever uma resenha sobre CINCO VOLUMES e não focada em apenas um ou dois volumes. Primeiro de tudo, é necessário compreender que a obra está longe de ser um expoente do gênero Boys Love (o famoso BL, ou Yaoi, para os mais antigos), contudo, nem nos piores sonhos eu cogitaria que tivéssemos a gama de problemas que essa obra apresenta em seu início, problemas esses que já se consolidam no primeiro capítulo e acabam sendo empurrados ao longo de toda trama.

Vejam bem, quando eu digo problemas no plural é mais porque a série nem se esforça para esconder o principal problema – que falarei adiante -, mas esse problema inicial (que é o mais grave de todos) ajuda a empurrar a trama para uma espiral de coisas mais complicadas e que requerem cuidado.

O plot central, que é no ator que vê seu posto de cara mais desejado sendo roubado por um novato que é gamado nele, é interessante e teria tudo para entregar um puta roteiro bem planejado e trabalhado... SE NÃO TIVESSE UM ESTUPRO NO PRIMEIRO CAPÍTULO (!)

Eu poderia dizer que é um abuso, ou tentar amenizar, todavia precisamos dar nome aos bois como eles, de fato, se chamam e o que ocorre aqui é estupro. A primeira cena de conteúdo mais sexual é algo que rebaixa MUITO a obra e tudo que se desenrola depois acaba não agregando, muito por conta do gosto ruim na boca que fica essa primeira impressão.

Esse gosto ruim só fica ainda mais complicado quando, logo na primeira cena, fica claro que ambos personagens compreendem o que está rolando e o abusador desdenha da possibilidade do abusado falar sobre o tema, pois o "rebaixaria" (e não venham me dizer que é outra interpretação, porque ele claramente desdenha questionando se o abusado teria coragem de falar). Além disso, depois deste momento triste, toda linha narrativa acaba virando um amontoado de dependência, arrastando a trama por várias cenas de sexo, que existem para cumprir tabela.

Entendam que isso não é ruim, porque ruim não define esse começo. É algo triste, para dizer o mínimo; pior é quando você percebe que a autora claramente não sabe para onde ir no começo, tanto que nos dois primeiros volumes o que tem de cena de sexo não é brincadeira; isso só muda em meados do 3º volume que é quando as cenas de sexo diminuem e, aí sim, passamos a ver que há um fiapo de roteiro. Há um plot para a autora (tentar) trabalhar.

Porém, é importante dizer que, pelo pouco que pude verificar, muitas pessoas acabaram se afastando da obra por conta do primeiro volume inicial e nem se deram ao trabalho de ver se a série tentaria corrigir sua rota - o que, para mim, só corrigiria se o relacionamento tóxico aqui presente fosse ao fim, mas divago.

O problema da obra, em si, é por conta da obra tentar se vender como um romance legal, mas cai em um ponto bem complicado, em especial se considerarmos que é algo que trás consigo uma porrada de outros problemas que caberia um texto próprio, todavia é importante dizer que a questão do estupro e de como o relacionamento se desenvolve mata todo e qualquer potencial da série.

É algo que eu desindico? Não, até porque há quem queira ler e tirar suas conclusões, porém não é o tipo de material que eu indique; muito por suas problemáticas e sua narrativa que foca mais na pornografia do que na história, em si. Boys Love podem ser mais que sexo por sexo e temos obras que provam isso, tanto lá fora quanto saindo por aqui, por este motivo acredito que vale mais a pena investir em obras assim.

Acredito, inclusive, que a Panini pode anunciar obras do segmento mais interessantes e menos apelativas. Compreendo que Dakaichi tem seu público, porém não é o tipo de mangá que eu recomende para apresentar o segmento BL - na realidade, recomendo só para quem acha a obra legal ou minimamente aceitável.

No mais, vale dizer que, sim, quando a obra decide focar no fiapo de roteiro que apresenta temos uma obra que se torna interessante e te deixa curioso para ver o crescimento de seus personagens, porém não dá para torcer pelo relacionamento por conta dos fatos que já aconteceram no começo. Então, fica o toque, se você for ler, leia ciente do que encontrará.

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