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Resenha – Fuuma no Kojiro

Aquele mangá que, incrivelmente, conseguiu me provar que, sim, dá para sair algo bom do Kurumada. Mas ainda assim há um longo caminho para se admitir isso

Sabe, é engraçado quando paramos para pensar que, hoje em dia, há muitos autores que não entendemos como conseguiram o status que possuem hoje; indo além, não conseguimos compreender como eles conseguiram somar boas vendas e popularidade com suas histórias truncadas e traços estranhos.

O começo dos anos 80 – e, até mesmo, o final dos anos 70 – são a prova do que estou dizendo, pois tínhamos, por exemplo, Go Nagai (que possuí alguns dos mangás mais controversos para análise de hoje em dia), Yoichi Takahashi (que criou uma das séries mais rentáveis de sua vida/carreira, que é Captian Tsubasa – ou Super Campeões) e, especialmente, Masami Kurumada (o cara que criou a mina de ouro chamada Saint Seiya e, também, a pessoa que vou pegar uma obra para resenhar hoje).
Veja bem – agora me atendo a um nome – não quero ser odiado por isso, mas o Kurumada-sensei não é exatamente alguém que eu chamaria de ótimo desenhista e roteirista, tanto que poucas são as obras dele que sobrevive nos dias de hoje, mas, ainda assim, sou obrigado a dizer que o cara tem talento. E um talento único; ele consegue criar boas franquias e possuí boas ideias, pena que ele não entende bem de execução e veremos isso melhor, pois hoje irei falar sobre uma das obras dele que está no meu Top 3 de obras dele.
Vamos falar sobre Fuuma no Kojiro. Então, se acomodem e venham comigo, pois temos muito a falar sobre essa obra, mesmo ela não sendo tão longa assim.

Considerações Iniciais



Vamos lá – com certa pressa, mas vamos para o lado didático do negócio: escrito e ilustrado por Masami Kurumada, Fuuma no Kojiro começou a ser serializado na Weekly Shounen Jump em dezembro de 1981 até novembro de 1983, rendendo 42 capítulos compilados em 10 volumes tankobon que, posteriormente, viraram 6 volumes em Kanzenban (me corrijam em caso de erro). A série, foi a segunda obra longa publicada pelo autor dentro da Shounen Jump – sendo a primeira Ring ni Kakero, mas falarei dela em outro momento. Além do mangá original, a obra ganhou uma continuação, publicada pela Champion RED em 2003, chamada de Fuuma no Kojiro: Yagyuu Ansatsuchou, que durou até 2007; aqui foi Satoshi Yuri quem assumiu a arte e o roteiro com a supervisão do Kurumada (falarei dessa continuação em outro momento. O foco aqui será só o clássico).
Em 1989, provavelmente aproveitando a popularidade que Saint Seiya estava tendo com seu animê, a TOEI resolveu animar as aventuras de Kojiro e seu clã Fuuma. Assim três séries de OVAs e um filme foram produzidos, cobrindo toda história do mangá. A primeira série, intitulada de “Fumma no Kojiro: Yasha Hen (ou Fuuma no Kojiro: Capítulo Yasha) ”, saiu em 1º de junho de 89 e teve um total de 6 episódios, indo até 2 de agosto do mesmo ano; no ano seguinte, mais precisamente de 21 de setembro até 1º de dezembro, saiu a segunda série, intitulada de “Fuuma no Kojiro: Seiken Sensou Hen (ou Fuuma no Kojiro: Capítulo da guerra das espadas Sagradas) “, que também teve 6 episódios e, por fim, tivemos o filme da série, intitulado de “Fuuma no Kojiro: Fuuma Hanran Hen (ou Fuuma no Kojiro: Capítulo da Rebelião Fuuma) “, que foi lançado em 21 de novembro de 1991.
Aqui no Brasil, segundo informações (mais precisamente, eu li em uma matéria do JBox sobre a versão brasileira), a série foi integralmente lançada em VHS na década de 90, mais especificamente quando o BOOM dos animês se deu pela primeira vez. Na internet é possível achar os 4 primeiros episódios do arco Yasha dublados (dublagem bacana até), já o restante da série é meio difícil/impossível achar com dublagem, só legendado mesmo. A propósito, aqui no Brasil a série recebeu o nome de Kojiro e os guardiões do Universo (sim, esse é o nome). O mangá, por sua vez, nunca foi publicado por aqui (e eu duvido muito que vá, pois, fora CDZ, só B’T X saiu por aqui e nada mais).
Bem, antes de seguir e falar mais sobre a série, vou deixar aqui explicado que, por eu não ter foco direito nos meus textos, dividi esse review por tópicos segundo a lógica narrativa de cada arco e, sendo mais claro, vou basear isso mais pelo mangá. Não entendam mal, irei falar mais do animê, porém o mangá – pasmem – é mais completo (sim, o Kurumada conseguiu ser mais COMPLETO que a galera da animação).
Outra coisa que, logo de cara, quero esclarecer é: não me odeiem, mas eu, particularmente, prefiro Fuuma no Kojiro à Cavaleiros. Gosto das aventuras de Seiya e seus amigos, mas tudo em Fuuma me atraí mais, em especial quando se nota a ordem cronológica do negócio. Obviamente que Ai no Jidai (já falei sobre em um “eu recomendo”, clica aqui para ler mais) é a minha obra favorita do Kurumada, mas é a vida. Enfim, vamos ao que interessa.

Arco do Clã Yasha


É aqui onde tudo começa. Esse arco engloba os 15 primeiros capítulos do mangá e, digamos assim, é o que mais fielmente foi transposto para o animê. Não que os outros não tenham sido, mas esse aqui só teve algumas páginas excluídas; o que deixa toda questão do Kojiro indo para a Academia Hakuo meio – na falta de palavra melhor – estranha, mas ainda assim funciona bem e tem todo um ritmo introdutório legal. Mas, vamos por partes porque assim fica mais fácil.
A história se inicia com Ranko Yagyuu indo atrás do local onde habita o clã Fuuma; tudo isso porque ela precisa de ajuda para deter o colégio Seishikan, que está dominando todas as áreas esportivas das competições estudantis e está fazendo isso através de métodos sujos e errados. Ao chegar lá, ela pede ajuda e, acaba tendo que se contentar com a ajuda de Kojiro, um aprendiz de ninja – os outros “””ninjas””” estavam fora, fazendo coisas de ninja -; de início o garoto reluta, mas aceita quando vê a foto da presidente do colégio Hakuo, Himeko Houjou e, pelo menos no início, tudo gira em torno disso – ou todo primeiro arco gira em torno disso e de outros pontos que irei abordar.
Porém, como deu para ficar transparente, nosso protagonista, nesse começo, não se colocou à disposição por atitudes nobres. Ele o fez porque se interessou pela presidente, mas isso é o menor dos problemas aqui, pois ainda temos o fator que a Seishikan tem seu grupo de “””ninjas””” liderados pela Yasha Hime. Esse grupo possuí a ambição de dominar todas as escolas do Japão e, no meio de seu plano, o Kojiro aparece.
Aí é um dos pontos de diferença entre as mídias, pois no mangá temos o Kojiro virando destaque em tudo que faz – até porque o cara tem treinamento ninja, logo qualquer esporte que ele fizer, terá um aproveitamento 10/10 -; já no animê já partimos para porrada e vemos o surgimento dos ninjas do clã Yasha (pausa: na dublagem os clãs viraram tribos. SIM, brasileiro não tinha bom senso naquela época). Daí para frente tudo que temos é um roteiro que foca em mostrar as famosas batalhas 1 vs 1 que é o básico do Kurumada, porém temos aqui um ponto bem peculiar, pois os 11 primeiros capítulos (se não me engano) mostram o que, basicamente, seria um mangá de batalhas entre facções, mas eis que entre o capítulo 12 e 13 temos a mudança mais “excêntrica” que um roteiro pode permitir.


No auge da batalha, nosso protagonista ruma para batalha final e aí, eis que surge uma espada de madeira que nos é apresentada com a Furin Kazan, uma espada lendária. Até aqui tudo ok, o problema fica por conta de, DO NADA, ela passar a ser mencionada como algo que nós, leitores, já sabíamos da existência e importância! Sendo que EM MOMENTO NENHUM tínhamos, sequer, conhecido esse plot. Disso podemos tirar outro defeito do Kurumada (fora a falta de enquadramento, falta de boa anatomia e falta de dinamismo em suas lutas), que é o nexo zero para revelações cruciais; ele não sabe apresentar plot twists direito e, geralmente, a informação chave não consegue causar a surpresa requerida. Nesse caso, em especifico, a revelação seguida de “Uau! É a lendária Furin Kazan” (sic) só nos dá aquela expressão de “Ué! De onde, raios, você tirou isso? ”. Não é lá algo louvável, mas enfim...
Prosseguindo na explicação, todo final do arco é bem executado para os padrões e temos um embate final que, no meu entender, é meio piegas, mesmo aproveitando bem do drama do Musashi (que é o rival da vez). É tudo bem feito e elaborado a questão da doença que a irmã dele tem, em especial por serem ligadas as visões que ela ganha durante o sono, mas ainda assim é um final que não surpreende. A única surpresa, efetiva, é que ele também é detentor de uma espada lendária! A Ougouken (que, também é introduzida de uma forma que... olha...), fora isso... é, vamos para o próximo arco.

Arco das Espadas Sagradas.


Ou, como gosto de chamar, arco do Imperador Caos. Esse arco engloba dos capítulos 16 ao 36 do mangá e, de modo geral, é o mais longo. Aqui temos o arco onde descobrimos que as duas espadas apresentadas, inicialmente, não são as únicas e existem outras 8 espalhadas por aí, sendo que, dessas oito, cinco já estão em pose do maligno imperador Caos.
Mas, calma, vou por partes (ou tentar, minha mente não ajuda muito). Primeiramente quero aconselhar que, caso você decida ver o animê, nesse arco, pegue o mangá e leia, porque o começo da animação é muito em aberto. Fora o fato do animê sumir com alguns personagens anteriores como se eles tivessem evaporado. Já o mangá se prontifica a explicar tudo, deixando a história mais interessante de se acompanhar.
Já adiantando minha honestidade, podemos dizer que é nesse arco que o Kurumada me provou que, sim, sabe criar coisas legais quando tem vontade; se bem que, dentro desse contexto, ele fez isso mais com coragem do que com vontade; afinal no período que ele criou esse mangá o pai dele estava internado – vindo a falecer tempos depois -; por isso tiro meu chapéu pelo esforço. Todavia não é o esforço pelo momento triste que torna esse arco bom e sim porque houve um empenho em, pelo menos, nos explicar melhor as coisas e nos dar algumas regras para certas manias que todo shounen possuí em essência.
Vamos deixar claro desde o começo que, sim, há defeitos na construção de drama e nas cenas de ação, mas isso é um defeito que acompanha o Kurumada desde que ele começou, logo não vou criticar algo evidente, porque isso é bater em cachorro morto. Porém cabe começar elogiando os vilões, pois todos são dignos de algo que só poderia ser concebido naquele tempo, mesmo as ambições do final boss são extremamente clichês, porém, divertidas.
Além disso também temos toda explicação das espadas santas e como elas foram criadas. Sério, é algo bem padrão das ideias que, futuramente, veríamos em Saint Seiya, mas dá certa “””credibilidade””” ao que vem sendo apresentado desde a inclusão – abrupta, diria eu – desse conceito.


O ponto alto fica, certamente, pela batalha final do arco que, a princípio, era para ser uma grande luta de todos contra todos e, devido à vontade do cosmos, vira o básico. É algo que, no momento que se olha, você ri perante ao absurdo daquela regra criada, claramente, para valorizar o elemento mais padrão de shounens porrada. Entretanto não deixa de ser legal, em especial quando vemos os vícios costumeiros do Kurumada na narrativa das batalhas.
No fim do arco, temos aquela sensação que a obra poderia ter parado por aqui, até por ter fechado bem o arco narrativo. Todas as pontas soltas de antes aqui se fecham e tudo se encerra com classe, mas como o autor tem uma tara por mortes de mentira, ele não para aqui... e aí vem a saga seguinte (sim, essa foi bem objetiva, até por não ter muito o que criticar).

Arco da Rebelião do Clã Fuuma.

Eu poderia começar criticando a ganância, ou até mesmo xingando o Kurumada, mas vou começar dizendo que esse é o arco com maior número de porquês que já acompanhei. Ele abrange os capítulos do 37 ao 42 e, por conseguinte, é quem encerra a história, mas desde o começo não demonstra motivos plausíveis para existir dentro da narrativa.


Vamos aos pontos: no arco anterior o Clã Fuuma foi extinto, com exceção do Kojiro e do Ryoma (que foram trolados pelo Cosmos), os outros remanescentes já poderiam desfrutar de paz (até porque o Caos se livrou de “todos” os clãs) e that’s all folks. Mas, de algum modo o Kurumada achou que seria legal trazer todo conceito do primeiro arco de volta! Sério!
Aí temos um arco curto, mas que é estranho e cheio de incoerências com tudo que já foi passado antes. Isso sem contar que aqui ele usa a mania do “cara extremamente forte que apanha como se nunca tivesse lutado antes”; isso dá nos nervos e só serve para atiçar o fanservice besta.
O único ponto positivo aqui é o final boss, por possuir um poder maneiro, porque de resto, é um arco que poderia não ter saído da mente do autor, pois acaba quebrando aquele clima que encerra o arco anterior (e foi base para encaixar a série no Kurumada Suikoden: Hero of Heroes); além de só ajudar a provar que o Kurumada gosta de trollar seu público, pois ele usou recurso parecido em Ring ni Kakero e viria usar em Saint Seiya.

Considerações Finais

Ao fim de todo esse texto, quero apenas dizer que, mesmo com os defeitos que apontei, ainda gosto de Fuuma no Kojiro. Ela é uma boa obra, tem bons momentos e cumpre bem o que a limitação criativa do Kurumada permite sem abrir mão de momentos impactantes.
Podemos dizer que essa é uma obra que só funciona 100% bem com a simplicidade do começo da década de 80, hoje em dia, para muitos, ela seria/é vista como algo defasada e sem brilho. Algo que tem mais defeitos do que qualidades.
Claro que devo admitir que não me aprofundei em nada e nem soltei spoilers justamente para que você, leitor, decida se quer ler ou não. Até para conhecer melhor essa obra que, ao meu ver, tem um brilho único e deveria sim, ser acompanhada, em especial por render bons momentos de diversão e ser algo para testar a suspensão de descrença.

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